sexta-feira, 31 de julho de 2009

O túmulo de Sebastião

Houve quem um dia fizera meu amor tornar-se ódio. Houve um dia que compreensão virou mistério, e namoro, adultério. Uma cerveja gelada me engasgava, e eu perdia a ebriedade pela tontura da maldade. Assim foram correndo as dores, todas intermináveis. Então houve um dia que abalou-se o que nunca foi fixo, e minha mente caiu em um poço sem fundo. Lá estava eu: de homem limpo e apaixonado, em babuíno desesperado. Não sabia para onde ir, nem onde procurar.

Houve um dia que o sangue fluia, e as emoções palpitavam nas veias e de versos a mente fervia. Mas no jogo sujo em que nenhum momento é apreensível, ocorre a fuga das paixões. A dúvida, a melancolia, a surra e o abate. O fim parece próximo, eis que os rios congelam no frio, e meu banho virando afogamento: depois da luta contra a correnteza, a paz. Aquela paz sem esperança, do que nada mais quer, do que não sabe nem precisa mais nadar. Nada. Nada. Procuro, e até a busca é...Nada.
Não existe mais medo, não existe mais sofrimento, não existem paixões. Existe apenas o tempo passando, na eterna pedra tocando, mas sem nunca quebrá-la. Agora me encontro por dentro e por fora do mesmo jeito: duro. Mas eis que num olhar, num relance, olho para o meu existir, e como alguém que não sou eu, incrivelmente sinto pena, tristeza, mas já isso como algo que não me toca diretamente, que não dói, que não é meu. Encontro, no fundo de mim mesmo, vendo de fora, como outro que não se importa com o mesmo: um túmulo, sem flores, sem cheiros e sem cores. Nas memórias e dentro do coração estava escrito: Aqui Jaz Sebastião.