quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Madrugada
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
A transparência e o obstáculo
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Os habitantes do abismo
Segui adiante, caminhando por aquele lugar. quanto mais eu caminhava, mais arenoso o solo. O vento, porém, era leve, e nada era muito calor: a temperatura era como as cores, quase-cinza. Primeiro encontro um cachorro, o que me deixa um pouco nervoso, com medo. Olho para ele, que é completamente indiferente a mim. Ele segue e encontra outro cachorro: o primeiro encontro que presencio no mundo que acaba de me parir. Um cachorro encontra o outro, e em plena comunicação segue correndo, se jogando pela areia, brincando de se morder, um puxando o rabo do outro, correndo e voltando.
Eis que surge a figura enigmática, que marca o segundo encontro, onde pela primeira vez me entendo como parte daquele mundo: fui percebido por alguém. A presença dos cachorros revelava algo mais: ali havia alguém encarregado de cuidar do lugar, de cuidar dos cachorros, e os cachorros estavam ali como parte do "cuidamento" do lugar. O homem me olha de cima do barranco. Entendo que ele está ali por ordem de alguém, que deveria ser dono do lugar, e deixa-o ali, cuidando. Mas não havia dono no lugar: aquela figura era o cuidador do lugar que não era dele, nem de ninguém, e ainda assim ele mantinha-se marcado pela função de cuidar o lugar para alguém - alguém indeterminado, um inexistente, um vazio: uma figura que só existe pela relação que tem com o cuidador do lugar - sem alguém que representasse o dono, não haveria o empregado cuidador, e sem o cuidador, não haveriam os cachorros, e sem os cachorros, não haveria o banco de areia. Sigo adiante, estranhando, subo para o outro lado do barranco para fugir dos cachorros, e fico pensando em qual rua eu deveria entrar para sair na 7 de setembro...
terça-feira, 27 de abril de 2010
Findos tempos de liberdade
Tu, liberdade, és adolescente
Inflama a alma como uma virgem descarnada
Excita e enaltece, nos procura e se evanesce
Tua busca desenfreada que nunca nos acalma
Enxugamos as lágrimas e bradamos em tua fala.
Mas nada agora te enobrece
A juventude que se buscava libertada
Morre cedo logo que o sonho padece.
De realidade a tua ideia é abandonada.
Somos todos prisioneiros do mesmo destino:
crescemos para ver, para ler no mundo,
Num lençol branco com o discurso encardido.
E o limpamos, mas não te encontramos.
Liberdade, para qual nascemos, sonhamos e vivemos
Mas o que em ti não estava escrito
É que com o tempo nós crescemos
E isto significa te des-cobrir
Te afastar das cortinas idílicas
Para saber à carne crua
Que independente de como tu te desvincula
Somos crescidos dominados.