I. Os segundos
O segundo aponta para frente
corremos um depois do outro,
atrás.
E os anos passam
de um segundo para o outro
de novo.
E o ovo nasceu no seu lugar.
O nascido quis voltar pro útero
do aquém.
Além do mais,
é o segundo que aponta adiante.
Até nas eleições.
Sessenta batidas por minuto,
um depois do sopro.
Amém.
Mas que passado é este,
do futuro do logo ali,
sem nós, também?
II. Amanhã
A manhã nasceu do corvo,
do desalento cantado em coro.
Um vôo transitivo
de um lado para o povo,
de Atenas
para Kosovo.
Do escuro da Alemanha,
para os trópicos
da façanha:
Ach! Nur ein Witz.
Du auch, Witz!
Die Lüge in der Satz,
die Betrügen in der Platz.
Nochmal, ich bitte,
auf portugiesisch:
Nur ein Witz,
nur ein Witz.
Cuiabá, 31 de dezembro de 2018.
terça-feira, 29 de janeiro de 2019
quarta-feira, 4 de julho de 2018
A implosão de Eldorado no século XXI
Aqueles prédios grandes, sinal de um futuro que não veio, davam um ar sombrio à cidade de Eldorado. Entre os escombros do presente-passado e o presente dos futuros escombros, lia-se o artigo do arquiteto Cláudio Amorim, no jornal Panfleto de Eldorado:
"[...] a arquitetura não pode ser política. Não me refiro apenas à estética. Devemos acabar com a arquitetura socialista - não foi para isso que a arquitetura foi feita. A distribuição de renda gera o paternalismo na arquitetura, e não cabe ao governo determinar como serão os espaços e as moradias, muito menos a estrutura urbana na cidade. A intervenção gera anomalias e recessão nos investimentos da liberdade arquitetônica. Como se vê, as indicações políticas fizeram ruir os prédios do modelo falido, da Ottosbresch, passando pela Carneiro-Ferreira, à OAC. O tropologismo de Galeano Ventoso estragou Eladorado. Isso é o que acontece quando a arte apoia o comunismo. A arquitetura não é arte e não deve ter finalidades estéticas. A arquitetura não deve ter interferência política."
Paulo encontra um notebook no meio dos escombros, diante de um horizonte de prédios com fachadas luminosas e ostentosas - aqueles que ainda sobravam. O computador estava próximo, mas inalcançável, pois o fio que o ligava à tomada não podia mais ser puxado (vinha de longe para estar ali na sua frente, entre os escombros). O exato ponto em que se encontrava era um pouco além de onde Paulo podia ir - era um ponto impossível. Paulo queria enviar uma resposta à Amorim, lhe dizer que não há arquitetura que não seja política - toda escolha arquitetônica é uma escolha política. Gostaria de criticar o livre-arquitetismo de Amorim, ao mesmo tempo que pretendia denunciar a frieza estética e o descaso arquitetônico do programa "Sua Casa Meio Cinza". A cidade deveria ser pensada pelas pessoas e para as pessoas!
Diante de si, ao lado do computador, encontrava-se o próprio Cláudio Amorim, preparando um novo prédio que ocuparia o lugar dos escombros. Poderia dizer-lhe tudo que pretendia escrever, mas assim como o computador encontrava-se ao mesmo tempo próximo e em um ponto impossível, Amorim estava logo ali, ontologicamente incomunicável.
Ao fundo, tocava uma música que era uma mistura de "O estrangeiro" com "Beleza Pura", do cantor tropologista. Quando Paulo mira o horizonte, um dos grandes prédios é implodido, e assim um por um. Implode o horizonte. Percebe que a cidade será toda demolida, ao mesmo tempo que a presença de Amorim sinaliza uma nova construção. Paulo alcança neste momento o paradoxo do gozo irônico da destruição e a dissolução terrível de seu ser diante do medo do futuro.
"[...] a arquitetura não pode ser política. Não me refiro apenas à estética. Devemos acabar com a arquitetura socialista - não foi para isso que a arquitetura foi feita. A distribuição de renda gera o paternalismo na arquitetura, e não cabe ao governo determinar como serão os espaços e as moradias, muito menos a estrutura urbana na cidade. A intervenção gera anomalias e recessão nos investimentos da liberdade arquitetônica. Como se vê, as indicações políticas fizeram ruir os prédios do modelo falido, da Ottosbresch, passando pela Carneiro-Ferreira, à OAC. O tropologismo de Galeano Ventoso estragou Eladorado. Isso é o que acontece quando a arte apoia o comunismo. A arquitetura não é arte e não deve ter finalidades estéticas. A arquitetura não deve ter interferência política."
Paulo encontra um notebook no meio dos escombros, diante de um horizonte de prédios com fachadas luminosas e ostentosas - aqueles que ainda sobravam. O computador estava próximo, mas inalcançável, pois o fio que o ligava à tomada não podia mais ser puxado (vinha de longe para estar ali na sua frente, entre os escombros). O exato ponto em que se encontrava era um pouco além de onde Paulo podia ir - era um ponto impossível. Paulo queria enviar uma resposta à Amorim, lhe dizer que não há arquitetura que não seja política - toda escolha arquitetônica é uma escolha política. Gostaria de criticar o livre-arquitetismo de Amorim, ao mesmo tempo que pretendia denunciar a frieza estética e o descaso arquitetônico do programa "Sua Casa Meio Cinza". A cidade deveria ser pensada pelas pessoas e para as pessoas!
Diante de si, ao lado do computador, encontrava-se o próprio Cláudio Amorim, preparando um novo prédio que ocuparia o lugar dos escombros. Poderia dizer-lhe tudo que pretendia escrever, mas assim como o computador encontrava-se ao mesmo tempo próximo e em um ponto impossível, Amorim estava logo ali, ontologicamente incomunicável.
Ao fundo, tocava uma música que era uma mistura de "O estrangeiro" com "Beleza Pura", do cantor tropologista. Quando Paulo mira o horizonte, um dos grandes prédios é implodido, e assim um por um. Implode o horizonte. Percebe que a cidade será toda demolida, ao mesmo tempo que a presença de Amorim sinaliza uma nova construção. Paulo alcança neste momento o paradoxo do gozo irônico da destruição e a dissolução terrível de seu ser diante do medo do futuro.
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
Canhoto
A verdade é que sinto mal
não sinto direito.
Canhoto errado
desde o primeiro momento.
Me sinto errado
porque não sinto o momento
canhoto, não sinto
desde o primeiro direito.
Sinto que sinto mal
não me sinto, primeiro.
Não sei o que sinto,
não entendo direito.
A verdade
nasce
sozinha.
Não sei de onde vem.
não sinto direito.
Canhoto errado
desde o primeiro momento.
Me sinto errado
porque não sinto o momento
canhoto, não sinto
desde o primeiro direito.
Sinto que sinto mal
não me sinto, primeiro.
Não sei o que sinto,
não entendo direito.
A verdade
nasce
sozinha.
Não sei de onde vem.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
Something
Something
1.
Smile
I.
Poor
are the humans
‘cause
they don’t choose what they will be.
They
are trans-passed by passions,
by
distractions,
by
involuntary seeds
of
attraction.
The
happenings arise in the fields of the lack of power
and
make ourselves out of control.
The
motivation transforms us from within,
and
to the soul love becomes tyranny.
When
a smile is a smile is a smile...
II.
It
would be easier if it was close
to
the peace of Gandhi
or
to the groove of Rolling Stones.
But
Shakespeare reigns over love
and
there is in the world nothing more
than
love, fight, losing or winning.
When
the gray clouds leave
and
the Spring comes
with
a breath of faith
things
come back to their own place.
But there is goodbye in between.
There
is hope and there is pain.
There is no lie in a smile
which
through memory in the heart stays.
2.
Eyes
No
one can see
the
sadness inside the tears
the
painful state of nostalgia
with
the things leaving aside
after
the leave.
The
animal inside
can’t
ever know what it means
but
only it could see
a
whole soul inside those eyes -
and
who knows if looking at him?
The
things are written in a way she can understand
his strange feelings and its retrospection.
But
he keeps alone on those things that are only to him:
saudades.
What more it could be?
3.
Heart
Without
perceive, the heart the wind deceive
while
the mind is thinking too much
it
doesn’t see what is true
and
what it comes.
But
heart knows and makes it through,
to
put life into a new cycle.
And
doesn’t matter the source or the name:
if
from the world or from the Bible.
Snakes
and apples throw life as in a shove
where
every heartbeat
is
about love.
4.
Soul
To
fall in love is a mystery.
To
not own oneself is a misery.
But
what make us feel ourselves
other
than to be lost in the song of Sirens?
The
world outside is a cover
and
a lover is what make us
beings.
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
Centro de Porto Alegre
A criança queria saber
se morango é feito de sangue,
já que é vermelho.
"Compro ouro, compro cabelo!"
Silva grita. Pêlo. Joelho.
A criança olha o céu.
Vê o dia inteiro.
Brilha o sol,
que é vermelho.
"Jesus te salva, conhece o gene e o DNA"
Silva canta. Pêlos. Cotovelos.
A criança olha para o chão.
Vê o escuro.
Que é vermelho.
"Chip da Oi!"
Cachorro quente de duas salsichas.
Cinco Pila.
Silva janta. Sílvia Toldos - Sílvio Camêlos.
A criança olha pra frente.
Pode ser que chova -
diz o espelho.
Os Silva são feitos de morango.
Silva chove, se puder.
Porto Alegre, 25 de outubro de 2016.
se morango é feito de sangue,
já que é vermelho.
"Compro ouro, compro cabelo!"
Silva grita. Pêlo. Joelho.
A criança olha o céu.
Vê o dia inteiro.
Brilha o sol,
que é vermelho.
"Jesus te salva, conhece o gene e o DNA"
Silva canta. Pêlos. Cotovelos.
A criança olha para o chão.
Vê o escuro.
Que é vermelho.
"Chip da Oi!"
Cachorro quente de duas salsichas.
Cinco Pila.
Silva janta. Sílvia Toldos - Sílvio Camêlos.
A criança olha pra frente.
Pode ser que chova -
diz o espelho.
Os Silva são feitos de morango.
Silva chove, se puder.
Porto Alegre, 25 de outubro de 2016.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Metáfora
Toda
lembrança
é como um
boneco de areia
que
desmorona toda vez que é tocado.
Um
passageiro, desmontado
entre
vestígios de incerteza
diante do
que só pode se dizer
quando já
está reconhecido.
(O que só se
pode dizer
quando já
está dito.)
A carta é um
recalque
do que não
foi falado,
e o poema
é uma carta
que não foi escrita.
Somos
metáfora:
restos ao
vento
reunidos
no fluxo do
tempo.sábado, 26 de outubro de 2013
Sistema
A cronométrica
Enquadradou
O mundo
Diante da sua fluidez.
Apologética do mundo cercado
Enquadrou
A liberdade
Como pecado.
E somos nós
Perdidos no tempo
Medido
Por um homem só,
Que disse
Que o tempo
Dividido
Era um nó:
Encontramos
O elo
Sentido
Espalhado como pó.
E presos
Como animais
Ressentidos
Nos mantemos
Prendidos
Na magnitude
De uma ordem
Só.
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