sábado, 1 de janeiro de 2011
Epistêmico
Elucidando com os signos enquanto a
Natureza inteira é questionada e afirmada
Três vezes cortada pelo tempo.
Atemporal nas luzes vivas do conceito,
Luzes soltas nas cores da representação.
Ilusão, verdade e aparência
Depois, antes...
Agora.
Da atividade da mente as coisas são formuladas,
E criadas, vivem no pensamento.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Madrugada
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
A transparência e o obstáculo
terça-feira, 27 de abril de 2010
Findos tempos de liberdade
Tu, liberdade, és adolescente
Inflama a alma como uma virgem descarnada
Excita e enaltece, nos procura e se evanesce
Tua busca desenfreada que nunca nos acalma
Enxugamos as lágrimas e bradamos em tua fala.
Mas nada agora te enobrece
A juventude que se buscava libertada
Morre cedo logo que o sonho padece.
De realidade a tua ideia é abandonada.
Somos todos prisioneiros do mesmo destino:
crescemos para ver, para ler no mundo,
Num lençol branco com o discurso encardido.
E o limpamos, mas não te encontramos.
Liberdade, para qual nascemos, sonhamos e vivemos
Mas o que em ti não estava escrito
É que com o tempo nós crescemos
E isto significa te des-cobrir
Te afastar das cortinas idílicas
Para saber à carne crua
Que independente de como tu te desvincula
Somos crescidos dominados.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
A poesia do bêbado
o ar passa sem graça, a noite não jorra fumaça
os dias claros incomodam e a brisa fresca parece um bafo quente.
E tudo isso te leva a beber.
E vai indo-se embora tua armadura
tua alma despe-se com ternura
que beleza é ver o bêbado cantar
que beleza é ver o bêbado dançar!
A realidade crua aparece: não há tempo, não há forma, não há dever
o homem bêbado é natureza pura em se viver.
Somos animais, mas temos poesia
A poesia esta que é por vezes animalecer
Nos encontramos homens quando podemos beber!
Beber! Beber! A poesia de um homem magro é beber!
É na bebida que transparece à alma a mentira que a sobriedade constrói em nós.
O homem bêbado é o homem selvagem, sem nenhuma malandragem.
Beber sem esquecer.
Mas beber é evanescer: como a passagem do tempo, como os movimentos do espaço
como as coisas que vem e que vão, não se deixam parar agarrando pelo braço.
A embriaguez vem e vai aos poucos, e não adianta beber mais
Ela vai embora para o seu trono da paz.
Não bastaria beber. E me decepciono.
A embriaguez é a recompensa que não é entregue a qualquer um que bebe
e para manifestar a poesia do bêbado não basta beber.
Tem que viver.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Os cheiros de ontem
as flores dos canteiros, os bueiros
Nenhum deles tem cheiros.
Um dia claro, uma mudança de temperatura
uma lembrança, um dia de domingo
E os ontens reaparecem com prestígio.
Aquele dia sem cheiro, foi vivido, refletido
amassado e derretido
E em um dia de sol, toda vista e toda luz
que eu havia escondido
Agora reaparece. A luz do sol depois da chuva
e o cheiro do passado volta dizendo algo
um sabor de significado, do que antes não se sabia o que é
Num dia comum, as coisas não se percebem
as coisas não tem cheiro
Mas eis que de repente, aparece dentro de mim
O cheiro de ontem, o cheiro do passado
o cheiro de todo tempo ao mesmo tempo
de todos os dias em um só dia
Transporte perceptivo, vivido, do que na hora já havia sido esquecido.
Na passividade, no humor rancoroso, num dia sem vento
Na calçada molhada, e nada na volta, e tudo de dentro
O passado trazendo pra hoje o cheiro do tempo.
domingo, 21 de junho de 2009
Confissões - 4
como as mentiras interpretam a lealdade
como tudo fica tão distante, quando passam os momentos
mas se mantém nos pensamentos?
As prateleiras ficam cheias de retratos opacos
no corredor ainda tudo é vazio.
As imagens falham enquanto os eventos se esfacelam
guardados poucos em gavetas que ninguém abriu
Os dias ferem o dorso de quem deve andar:
correndo, correndo, correndo sem vacilar
procurando os lugares que devia estar
e os deveres justos que podiam ordenar
O viver está submerso em um mistério
de formar uma história coerente
que nunca pode parar
que nunca pode mudar
que nunca pode escapar.
Quem soubera o que é querer!
Até hoje todos só puderam se entregar
às dúvidas das próprias certezas
a trilhar o rumo de nenhum lugar.
O dever ordena o caminho.
qualquer caminho manipula o dever.
Desejar é apenas imaginar.
Imaginar e desejar, só pode ser lembrar.
Apaga a vontade. Apaga qualquer possibilidade
de voltar atrás
de querer de novo o que devia passar.
O tempo ordena. E todos obedecem:
seguem adiante na cegueira
de construir o próprio tempo
e organizar a própria vida.
A memória esquece das ordens.
A memória desobedece o tempo.
A memória viola a lei que nos obriga
a não exagerar em qualquer saudade.
O tempo manda
"vai embora, e segue o teu caminho"
até o limite um andarilho
em uma estrada que desvia
outras vias torpes para o fim.
domingo, 17 de maio de 2009
O sublime, o esquisito
Chama a atenção, se olha, se estranha
olhos virados, dentes tortos, esculhambados
cor esquisita, pele podre
aspectos repugnantes
Imagem que sempre lembra dor.
Olhar...porque olhar?
e chama atenção, dá medo.
E procurar aonde, como?
Por que?
Curiosidade, o que apavora, afasta
Mas de novo, curiosidade, e se volta, encantado.
Por que?
Fora dos padrões. Como pode ser assim?
E encanta. No próprio aparecer, demonstra seus mistérios
nos enche de dúvida, de terror
Um sentimento esquisito, a todo instante transformador.
E sempre se olha, e sempre se assusta e foge
e se olha de novo.
A feiúra é linda. É original. É incompreensível.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Sobre Pausa - 1
Blocos de algodão se escurecem pelo horizonte.
O verde anis e o amarelo tomam palidez
e sobra um verde antipático como homogêneo.
As aves que voavam somem dali
Os rastejadores parecem encontrar algum buraco
Macacos, elefantes, e os animais mais gordos
simplesmente somem e ninguém sabe para onde.
Sobram as árvores, da calma ao desespero
Uma melodia crescente e assobiosa
acompanha os galhos e as folhas
e como se todo o verde cantasse, brabo,
um sopro amedrontador, anunciando o caso.
E logo tudo acalma.
O vento some
e tudo para de repente
para a chuva chover.
domingo, 12 de abril de 2009
Sem tema
pelo dia qualquer
por qualquer acontecimento.
Por esses dias, que memória é esquecimento.
Uma poesia sem tema
de quem quer falar sem dizer,
é paralisado pela censura
desse dia qualquer.
Um rumo certo, cada dia mais perto
atordoado pela lembrança
dos esquecimentos dos dias qualquer
Preenchidas as lembranças dos dia qualquer
em um momento perdido
e a poesia sem tema se exclama
sem conseguir se encontrar
Poesia sem tema
é sempre sobre amor.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Nós, os homens
sofremos de solidão;
quando odiados
sofremos perseguição.
Nós, os homens, quando amarrados
sofremos de tensão;
quando mal-amados
sofremos o augúrio do coração
quando bem bolamos,
sabendo tudo que conquistamos
as esperanças que destilamos,
então tudo alcançamos.
Mas, ah! Tem na visão do destino
o seu canto de escuridão;
a melodia confusa alardindo
a desordem da tentação.
Nós, homens, quando vazios
sofremos o tédio
e quando desejamos o que não desejaríamos
somos levados pelo furor do assédio.
Nós homens
sofremos tristezas
sofremos remorso
sofremos ansiedade.
Eu, homem, sofro de humanidade.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Interlúdio apagado
a margem negra do espelho dos homens
Mórbida mordaça que cala o tempo
Estúpida carcassa jogada ao vento
Eu sou o que vem depois da virtude
a mancha apagada na cicatriz do vício
A imagem opaca do cego que crê
estar tonto demais para ver
Estontiante ternura amassada no contraponto do elegante e do vil
escondinda fragrância do desdentado que sorriu
Já fui!
A vida atravessa a alma e crava a angústia da pequenez.
Ó todas as coisas,
o que fui eu?
Maldita estaca que me rebaixa
estou além do tempo perdido
enquanto a órbita se encaixa
e a vida aparece como um morto adormecido.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
confissões - 3
cuidando dele ou esquecendo pra que cure sem perceber
tentei caminhar derramando sangue sem o ver
e fica banhado o caminho por onde eu passo
Foi o fio de uma folha que fez crescer
foi o espinho de uma rosa que fez doer.
A dor não se apaga
a dor não se ignora
da dor não se foge
é ela que deve ir embora
Mexer no jardim é sempre um problema.
Arranquei todas as rosas dali
mas no mesmo lugar elas voltam.
Tirar seus espinhos: eis o que nunca pude fazer.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Burocracia
Três versos e um refrão
se for música para rádio.
Acordar cedo, tomar banho e café
estar disposto a trabalhar
e todo meio-dia engolir o feijão.
Encontrar um grande amor
promessas para ela e para si mesmo
Dois filhos e um apartamento com sacada
Casamento; panela e fogão no enxoval
festa e amigos bêbados
Por pouco ainda solteiros
Crescer na vida é ganhar dinheiro
comprar um carro
se mostrar a todos sem desespero
Os filhos crescem
As mentiras das mulheres aparecem
Os sonhos somem
os dentes caem
E no fim paga-se a taxa,
com juros,
do buraco e do caixão.
sábado, 20 de setembro de 2008
Por entre o véu do teu conceito
da imagem empírica que me chama
a analisar silogismos sensuais
e desvendar os argumentos do teu desejo.
Procuro por dentre o teu conceito
todos os componentes
e estes que enquanto tais
vão tomando meu lugar.
Como pode um si mesmo
se colocar num conceito?
Pensar em ti é me auto-conceituar.
Me decifrar faz parte de te contemplar.
Mas dos mistérios que desvendo por trás do teu véu
e por dentre todos que ainda poderia esclarecer
encontro um negro horizonte
que sempre vai se esconder
Elemento irredutível aos conceitos do coração.
Encontro no fundo do meu próprio querer
teu elemento incondicionado, meu mundo desconhecido:
Tua alma, elemento indecifrável.
Pelos teus olhos
Límpido espelho de tangentes do meu amor
ótica bandida da carne viva do meu querer
Enxergar em ti teus olhos e teu pensar
Enxugar pelo teu colo a minha dor
e deitar no solo do teu ser
Ser por ti perdido aspirante
de uma vontade bajulante
em imagem viva que condensa
as memórias mortas de meu sofrer
E nem a distância de não te saber
e nem os erros do que já foi
vão me fazer desistir
De tentar no fundo dos teus olhos
me ver.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Confissoes - 2
e pergunto como tu os molda.
Traga de novo uma esperança falida,
no momento que ela viver, não vai doer.
Traga desde o início um sorriso forte
Enquanto eu de tanto morno
me esquento abruptamente em um espasmo
ao me frontar com algo que não subtrai-se ao meio termo
Aquele sorriso, que nunca vi em lágrimas
a todo instante me lacrimeja
mas ainda assim me parecia indiferença
porque morno, nunca pensaria que podia ser por mim.
Morno, solto os cadarços e vou embora
mas tonto, desde aquele ponto
Agora nos tropeços.
Indo adiante.
Me permaneço
em tua sombra.
sábado, 2 de agosto de 2008
escrevedor
escreve o lápis e tripida com as penas
O escrevedor e seu silêncio tenebroso
Ferve versos e soa pomposo
Serve os traços e imita o poço
miraculoso e tardio escreve-moço
Ouve vozes do além e escreve estradas silábicas
e no calor resbaldante escreve versos de verão
Per-so...nificado em todos nificado.
Atado e perdido no próprio
...significado
escrevedor escreve
o ser-ninificado
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Em ti
e me toca o vento
com jeito do teu assopro
Olho no espelho
e os reflexos da luz
me tendem aos teus olhos
Tento dormir de noite
e dia ou noite
te acordo dos meus sonhos
E o cobertor que não me esquenta
só satisfaz quando nele eu transformo
cada pedaço no teu abraço
Mas em ti não sei o que se passa
Em ti não sei se meu laço te amordaça
Em ti não sei que gosto tenho
e a curiosidade de saber se existo em ti
ou se sem ti prevalece o que senti
Ah! Que vontade de morar em ti
Porque é o único lugar que não te encontro
sábado, 14 de junho de 2008
confissões - 1
por vezes se arrastam de maneira tão ridícula que parecem nada
por outras se descobre no tempo: atrás é onde ficaram
Algumas sensações marcantes sem explicações
Desatados e desconexos todos os trechos
Lendo o tempo da vida, interpretando a morte.
A violência pode ser tão passiva
e agredir sem perceber
Mas quando se percebe, dói
e se já foi embora e não tem volta
...dói.
Ficar se enganando, não ficar arrependido
por ter sido uma mentira de revolta
é mentir mais uma vez
Andar pra trás é tão difícil que quando vem a onda do destino
com toda a força a empurrar
o mais fácil parece lutar com a correnteza
e se afogar
As coisas submergem, se perdem, se desconectam
E eu afundo na definitiva lamúria
de que sou o que sou
e estou onde estou