sexta-feira, 24 de abril de 2009

Os comunitaristas

Rafanzo 001 estava de pé, postado na posição intermediária entre as leis da terra e as leis do mundo. As regras da sua comunidade lhe exigiam. Seu co-cidadão havia desrespeitado as leis estruturais do comunitarismo vigente. Todos sabiam qual lhe seria a pena: para aquele que faz mal uso do membro, a perda do mesmo. Agenor XH3 havia agarrado a mulher do próximo com ambos os braços, agora estava prestes a perder apenas um.

Agora o comandante geral da aldeia de Tembarí estava a postar-se para dar o veredicto. Porém toda comunidade já sabia. Todos aceitavam as regras, todos seguiam as leis, todos eram um. Nada havia fora da comunidade.

-Agenor será castigado com a perda do braço, que será feita, para manter a honra da comunidade e do ainda membro desta, através da espada. Aleatoriamente escolherei alguém para prestar este serviço.- disse o general

Pasmem. O escolhido foi Rafanzo. Agenor e Rafanzo eram amigos desde a infância. Brincavam juntos, aprenderam as leis e os bons costumes na mesma escola, quando um infringia a regra da comunidade, o outro lhe reprimia. Se algum dia faltassem com respeito a um membro da comunidade, apanhavam juntos, se arrependiam juntos. Porém o respeito pelo ambiente político e social era muito mais forte que sua relação particular e privada. Não havia amizade privada, eles apenas concebiam isto como conseqüência da vida em conjunto. Todos merecem o mesmo respeito, e a unidade da comunidade deve ser cumprida.

Ao ser chamado, Rafanzo prontamente pegou a espada. Postado, Agenor esperava com ansiedade o castigo. Estava prestes a purificar sua dignidade perante sua comunidade. A mulher com quem tinha se envolvido já haviam-lhe arrancado o útero. Antes da conclusão da cerimônia de purificação, não se olharam. Rafanzo em nenhum momento titubeou, não teve dúvida: aquilo era para ser feito.

...
O braço agora era parte independente do corpo de Agenor. Um pouco de sangue, logo tomaram-se os cuidados para estancar o sangue. Nenhum grito de dor, nenhuma risada ou comportamento desrespeitoso por parte do público, nenhum ódio. A comunidade estava novamente limpa, o arrependimento tomou conta das atitudes, o castigo foi realizado, o equilíbrio reconstituído.

No outro dia os amigos Rafanzo e Agenor combinam de sair juntos. Sentam sobre a mesa e pedem cerveja. Conversam sobre futebol, e como bom amigo, Rafanzo compreende a situação do seu amigo, sem um braço, e sempre lhe serve o copo de cerveja, com muita educação.

domingo, 12 de abril de 2009

Sem tema

Uma poesia pelos dias que passaram
pelo dia qualquer
por qualquer acontecimento.
Por esses dias, que memória é esquecimento.

Uma poesia sem tema
de quem quer falar sem dizer,
é paralisado pela censura
desse dia qualquer.

Um rumo certo, cada dia mais perto
atordoado pela lembrança
dos esquecimentos dos dias qualquer

Preenchidas as lembranças dos dia qualquer
em um momento perdido
e a poesia sem tema se exclama
sem conseguir se encontrar

Poesia sem tema
é sempre sobre amor.