quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A poesia do bêbado

A sobriedade é tediosa, estagnada no perecer
o ar passa sem graça, a noite não jorra fumaça
os dias claros incomodam e a brisa fresca parece um bafo quente.

E tudo isso te leva a beber.
E vai indo-se embora tua armadura
tua alma despe-se com ternura

que beleza é ver o bêbado cantar
que beleza é ver o bêbado dançar!

A realidade crua aparece: não há tempo, não há forma, não há dever
o homem bêbado é natureza pura em se viver.

Somos animais, mas temos poesia
A poesia esta que é por vezes animalecer
Nos encontramos homens quando podemos beber!

Beber! Beber! A poesia de um homem magro é beber!
É na bebida que transparece à alma a mentira que a sobriedade constrói em nós.

O homem bêbado é o homem selvagem, sem nenhuma malandragem.
Beber sem esquecer.

Mas beber é evanescer: como a passagem do tempo, como os movimentos do espaço
como as coisas que vem e que vão, não se deixam parar agarrando pelo braço.
A embriaguez vem e vai aos poucos, e não adianta beber mais
Ela vai embora para o seu trono da paz.

Não bastaria beber. E me decepciono.
A embriaguez é a recompensa que não é entregue a qualquer um que bebe
e para manifestar a poesia do bêbado não basta beber.
Tem que viver.